Parmênides fundou a metafísica
ocidental com sua distinção entre o Ser e o Não-Ser. Enquanto Heráclito
ensinava que tudo está em perpétua mutação, Parmênides desenvolvia um
pensamento completamente antagônico: “Toda a mutação é ilusória. Todo movimento é ilusão”.
Parmênides não considera como a base da existência os quatro elementos, nem o movimento, ou as impressões empíricas dos sentidos. Para ele o mundo real é o abstrato, o conceito imutável que é a essência de tudo, o Ser.
Parmênides não considera como a base da existência os quatro elementos, nem o movimento, ou as impressões empíricas dos sentidos. Para ele o mundo real é o abstrato, o conceito imutável que é a essência de tudo, o Ser.
Ele uma recusa da sensação como meio
de chegar à verdade, para ele, a sensação é um caminho errado para a
investigação porque engendra contradições e confunde o que existe com o que não
existe, o ser com o não ser.
Seu pensamento está exposto num
poema filosófico intitulado Sobre a Natureza e sua permanência, dividido em
duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra
que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma
certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte:
Unidade e a imobilidade do Ser;
O mundo sensível é uma ilusão;
O Ser é uno, eterno, não-gerado e imutável;
Não se confia no que vê.
Esse poema traduz exatamente a
natureza do pensamento de Parmênides que é tradicionalmente visto como o oposto
ao de Heráclito de Éfeso, sintetizado sua célebre frase: “um homem não pode
duas vezes num rio se banhar, pois da segunda vez o rio não será mais o mesmo,
assim como o homem.”
Parmênides vai então afirmar toda a
unidade e imobilidade do Ser. Fixando sua investigação na pergunta: “o que é”,
ele tenta vislumbrar aquilo que está por detrás das aparências e das
transformações.
Assim, ele dizia: “Vamos e dir-te-ei – e tu escutas e levas as
minhas palavras. Os únicos caminhos da investigação em que se pode pensar: um,
o caminho que é e não pode não ser, é a via da Persuasão, pois acompanha a
Verdade; o outro, que não é e é forçoso que não seja, esse digo-te, é um
caminho totalmente impensável. Pois não poderás conhecer o que não é, nem
declará-lo.”
Sendo assim, consideramos sobre seu
pensamento: podemos achar um mesmo todo para os dois e esta oposição entre suas
visões do todo passa a ser cada vez menor.
Para solucionar alguns paradoxos do
movimento Parmênides cria as classes negativas.
As classes positivas, ativas, serão
sempre predominantes, sendo que seus opostos não são uma transição dos mesmos,
mas sua ausência. Sendo assim, o movimento constante de Heráclito não existe,
apenas estados de presença, luz, e a ausência desse estado, trevas. Não há a
luz que se transforma em trevas, ou o calor que esfria, somente o positivo, o
calor, e sua ausência, o frio. É a oposição do ativo, masculino, o existente,
contra o passivo, o feminino, o inexistente.
Assim, nosso mundo dividia-se em
duas esferas: aquela das qualidades positivas (luz, quente, ativo, masculino,
fogo, vida) e aquela das qualidade negativas (escuridão, frio, passivo,
feminino, terra, morte). A esfera negativa era apenas uma negação da esfera
positiva, isto é, a esfera negativa não continha as propriedades que existiam
na esfera positiva.
Ao invés das expressões “positiva” e
“negativa”, Parmênides usa os termos metafísicos de “ser” e “não-ser”. O
não-ser era apenas uma negação do ser. Mas ser e não-ser são imutáveis e
imóveis. No seu livro: Metafísica, Aristóteles expõe esse pensamento de
Parmênides: “Julgando que fora do ser o
não-ser é nada, forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e
nenhuma outra... Mas, constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo a
unidade formal e a pluralidade sensível, estabelece duas causas e dois
princípios: quente e frio, vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois princípios)
ele ordena um (o quente) ao ser, o outro ao não-ser.”
O Vir-a-Ser
Quanto às mudanças e transformações
físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vemos ocorrer no mundo, Parmênides as
explicava como sendo apenas uma mistura participativa de ser e não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser
quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.
Um desejo era o fator que impelia os
elementos de qualidades opostas a se unirem, e o resultado disso é um
vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o conflito interno
impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação.
TODA MUDANÇA É ILUSÓRIA
Só o que existe realmente é o ser e o não-ser.
O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as
percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a tendência
de pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser.
Toda nossa realidade é imutável,
estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina do
Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já que
qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu
oposto – o Não-Ser.
Esse Ser não pode ter sido criado
por algo pois isso implicaria em admitir a existência de um outro Ser. Do mesmo
modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a
existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.
Simplício da Cilícia, em seu livro
Física, assim nos explica sobre a natureza desse Ser-Absoluto de Parmênides: “Como poderia ser gerado? E como poderia perecer
depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também
não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe
impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo;
pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de
cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição
foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece
no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte
Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado o encerra, porque
não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não
fosse, de tudo careceria. Mas uma vez que tem um limite extremo, está completo
de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio
a partir do centro, em todas as direções; pois não pode ser algo mais aqui e
algo menos ali.”
O Ser-Absoluto não pode vir-a-ser. E
não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria
haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a
unidade eterna.
Teofrasto relata assim esse
raciocínio de Parmênides: “O que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada;
o Ser, portanto, é.
ZENÃO E O PARADOXO.
O pensamento de Parmênides gerou um
problema lógico: se não há a mudança, o movimento, o que então percebemos como
sendo o movimento? A resposta é: a sucessão constante de instantes absolutos e
imutáveis. Não há mudança, apenas a estática, cada instante único e imutável se
sucede. Todo movimento é ilusório, assim como a pluraridade:
”Se a pluralidade existe, as coisas
serão ao mesmo tempo limitadas e infinitas em número.” – De fato, se há mais de
uma coisa, vemos que entre a primeira e a segunda existe, então, uma terceira.
Assim, entre a primeira e a terceira, existirá uma quarta; e assim, ao
infinito.”
Os paradoxos:
Paradoxo da dicotomia – Imagine um
móvel que está no ponto A e quer atingir o ponto B. Este movimento é
impossível, pois antes de atingir o ponto B, o móvel tem que atingir o meio do
caminho entre A e B, isto é, um ponto C. Mas para atingir C, terá que primeiro
atingir o meio do caminho entre A e C, isto é, um ponto D. E assim, ao
infinito.
Paradoxo de Aquiles – Imagine uma
corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma tartaruga. Suponhamos que é
dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância. Aquiles jamais a
alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já
terá percorrido uma nova distância; e quando ele atingir essa nova distância, a
tartaruga já terá percorrido uma outra nova distância, e assim, ao infinito.
Paradoxo da flecha imóvel – Uma flecha em vôo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões e se, a flecha em vôo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo a flecha em vôo está em repouso.
Paradoxo do estádio - Assim como a flecha, argumenta que é impossível que a subdivisibilidade do tempo e do espaço termine em indivisíveis. É o mais discutido e com a descrição mais difícil.
A imutabilidade quando aplicada a esfera moral cria um estado de conformismo e estabilidade. Ou seja, uma vez nobre um homem sempre será nobre, e jamais deixará de ser. Uma vez corajoso sempre será assim, mesmo que agindo de maneira covarde. Esse agir covarde seria apenas uma ilusão, uma distorção que nubla a verdadeira essência do homem, corajoso.