segunda-feira, 3 de novembro de 2014

RAÍZES DO BRASIL: o conflito de raças e a eugenia.

SOCIOLOGIA: Florestan Fernandes.

"Na sala de aula, o professor precisa ser um cidado e um ser humano rebelde"
Florestan Fernandes





Florestan Fernandes o fundador da sociologia crtica no Brasil. Depois de Caio Prado Jnior, que traz o marxismo para o pensamento sociolgico no Brasil, Florestan far uma reviso dos temas mais importantes da sociologia sob uma tica materialista. A questo racial, a escravido, passa agora em sua obra a ser analisada do ponto de vista econmico e dos conflitos entre classes sociais. A temtica cultural, apaziguadora dos conflitos cede espao para uma viso da explorao econmica do escravo, dando novas interpretaes para as desigualdades sociais.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A eleição do medo.


Nestas eleições não se viu muitas convicções, não se acreditou em novos planos ou se defendeu velhas fórmulas. As pessoas não estavam dispostas a lutar por algo, seja novo ou velho. Os votos foram por medo.
                Nesse confabular, brigar, debater e amaldiçoar os argumentos foram agressivos. Como se suas vidas estivessem em jogo as pessoas travaram uma batalha. Nesse cenário dois medos distintos que se opuseram.
O primeiro medo foi o de perda das condições atuais, mudança para algo incerto, ou para um passado assustador. Temia-se a crise do que se vive, ou o retorno ao antes de se viver o momento atual. Não se tem um entendimento das bases atuais, de como se chegou ao que se tem ou como isso tudo pode ser mantido. Apenas, medo, medo de perder algo, ou que se pensa ser sólido, ou que já se sente perder.
                O segundo medo e parecido com o primeiro, mas na direção contrária. Teme-se a manutenção da atual situação. Sem medo do passado, mas medo do futuro. Um temor da manutenção de uma situação que se apresenta como má, desastrosa, alimentado por perspectivas nada otimistas. Medo do futuro caso uma alternativa não fosse apresentada, mesmo que esta nada de novo venha a acrescentar, e já ter tido sua chance para mostrar.
                Ambos os medos mobilizaram as pessoas, argumentos, xingamentos, ódios e verborragias. Numa realidade de incertezas o que se tem é o temor de um futuro de retorno ou de incertezas. Retorno de um sofrimento que se crê superado, ou de um terrível mal que ainda pode ser evitado.
                Fato é que esse país não superou as verdadeiras raízes do medo. As heranças coloniais, a posição econômica na geopolítica capitalista, os ranços do escravismo, a cultura não nacionalista, não progressista e de desprezo pela intelectualidade e cultura.
                Os medos podem ter suas justificativas mas suas causas são desconhecidas pelos eleitores. As vitórias sobre os inimigos, ou não, de nada serviriam para amenizar a crise iminente ou a paz esperada. A grande questão é que se teme o retorno do passado ou de um vindouro terrível futuro se esquecendo que no presente tragédias e vitórias se vivem, numa confusão de interpretações. Perdedores afirmam abandonar a pátria, vencedores se creem laureados com a alegria e felicidade. Crenças, ameaças e incertezas que nublam, e sempre nublaram, a verdadeira percepção da realidade neste país povoado por um povo volta e meia se indaga sobre sua condição e se depara com o medo.


Prof. Juarez.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sociologia Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda.

       Busca pela identidade do povo brasileiro.
       Obra central: "Raízes do Brasil".
        
    Principais idéias:   
 O choque entre o modelo colonial com o moderno.
                                      Império  -  República
                                          Rural  -   Urbano
                          Homem cordial  -   Homem civilizado
                      Relações Pessoais  -   Submissão legal
                      Violência pessoal   -   Organização cívica



  • Mal sucedida formação de um espírito progressista no seio das relações sociais da civilização brasileira.
Diferenças entre a colonização ibérica e a inglesa na América.
A descoberta do Brasil e o sucesso da colonização foi fruto do espírito aventureiro e da adaptabilidade dos portugueses
Ausência das famílias dos aventureiros (ao contrário dos ingleses na América do Norte)
Resultou na mestiçagem: portugueses - índios - africanos.
Democracia racial.

Sociedade rural e patriarcal

Monocultura de exportação. 

Fazendas/engenhos - verdadeiros feudos

Relações familiares mais importantes que entre cidadãos.

             Abolição da escravatura: nova realidade social.

Crescimento das cidades: áreas nobres - Barões do Café
                                          periferias e cortiços - ex-escravos.
                                          marginalização da classe trabalhadora.
                                          baixa remuneração do proletariado.
                                          fracasso do capitalismo industrial.

Cultura ibérica "medievalista": trabalho indigno e lucro desonesto.


Fim da propriedade rural autosuficiente - decadência do meio rural. 

"nosso apego quase que exclusivo aos valores da personalidade"

Nobiliarquia brasileira.

Exaltação à inteligência, o ócio e as mordomias aristocráticas.

Título de bacharel como distintivo de elevação social.

Intelectualidade positivista importou dos Estados Unidos e da França ideias incompatíveis com a realidade social:
      não se tentava adaptá-las ao modo de vida do brasileiro
      reações displicentes ou hostis 
      Ex: os "bestializados" da Proclamação da República 
            revoltas como Canudos e "da Vacina"

Implantação do regime republicano:

Feita de uma maneira desordenada e abrupta

Não foi espontâneo da população. 

A aristocracia rural apoderou-se do poder

Distanciou o Estado da realidade do Povo.

Trocou-se um regime parlamentar monárquico relativamente avançado, por apenas mais uma república latino-americana; 

Fim da figura absoluta do Imperador: motivando a população a ignorar o Estado, ou revoltar-se contra ele.

Política republicana: corrupção, favores pessoais, golpe, fraudes eleitorais, manipulação da população, miséria. 

Espírito cordial do brasileiro:

Característica nata da chamada "raça brasileira". 

Fazer tudo a partir da afetividade
Dificuldade para entender as formalizações políticas
Incapacidade de separar o que é público do que é privado. 
Relação informal com o Estado - não cidadania.
Inexistência do "orgulho racial" herdado dos portugueses.

O caráter português se coloca então como superior a seus congêneres, mais democrático, mais adequado à plena convivência das raças, da diversidade.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

René Descartes - Filosofia Moderna.


Tópicos sobre Descartes:

Divisor da filosofia.

Filosofia Medieval (TEOLOGIA)                    Filosofia Moderna
               METAFÍSICA                                                                RAZÃO

       Toda teoria que não passe pelo método racional é considerada metafísica. Ou seja, é uma teoria que não pode ser provada racionalmente, que não existe de fato.
      
       TEORIAS A PRIORI E A POSTERIORI.
        Toda teoria é apresentada em termos a priori (a princípio), ou seja, não submetida ao método racional e portando sendo apenas especulação. Após ser criticada e comprovada cientificamente esta mesma teoria passa a ser considerada como a posteriori (posterior à crítica). 

RACIONALISMO (IDEALISMO CRÍTICO)
        Negação da verdade empírica, da "realidade" advinda pelos sentidos. As impressões sensoriais, ou dos sentidos (o que vemos, tocamos etc) podem ser falsas, podem nos enganar. 
    Somente a razão (idéia racional) é incontestavelmente verdadeira.  
     

PRINCÍPIO DA DÚVIDA     
        Todo pensamento, para ser considerado verdadeiro deve ser contestado, duvidado e analisado matematicamente.
           Esse duvidar se dá mediante a crítica do argumento.

OS TRÊS ARGUMENTOS

ARGUMENTO DOS SENTIDOS: Nossos sentidos nos enganam. Aquilo que nosso aparelho cognitivo entende como realidade pode ser uma ilusão, uma miragem, uma sensação falsa, um sonho.


ARGUMENTO DO SONHO: A maior parte do tempo, ou a maioria das pessoas, estão sonhando. Um sonho acordado no qual nos enganamos e tomamos por verdadeiros falsas impressões, as impressões dos sentidos. A única saída para escaparmos à tal ilusão é a razão. Pode-se iludir com a visão, vendo um arco-íris, confundindo uma ação má por boa, um veneno por remédio, o sofrimento pela cura, pode-se realmente sonhar que está voando, mas não se pode sonhar que o resultado da operação 2+2 seja outro que não 4. Não se sonha com a razão. 
           Ao se sonhar podemos nos convencer absolutamente de que se pode voar, ou como por muito tempo se pensou que a força era a razão dos corpos entrarem em movimento. Mas se somarmos 2+2 e o resultado for 5 saberemos estar sonhando. 
           A partir desse exemplo simples podemos ampliar o raciocínio e estabelecer que um problema de saúde aparentemente simples, uma dor de cabeça, se submetido ao crivo da razão, por um médico, pode se apresentar na realidade como sendo um problema de fígado, tendo uma cura bem mais complexa do que o simples ministrar de um analgésico.

ARGUMENTO DO DEUS ENGANADOR OU GÊNIO MALIGNO: É possível que um gênio, alguém dotado de tal habilidade retórica, possa transformar uma sentença falsa, metafísica, uma verdade racional, ou matemática. 
        Einstein chegou a elaborar um cálculo que provava a existência do éter (substância que preenchia o espaço sideral). Imediatamente ele mesmo contrariou tal teoria. Hoje a ciência provou que tal teoria era falsa.


MÉTODO CARTESIANO: 

Descartes desenvolveu o método científico moderno, que consiste em quatro etapas.

1ª OBSERVAÇÃO: verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;

2ª ANÁLISE RACIONAL: dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples;

3ª SINTETIZAR: agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro;

4ª ENUMERAR: enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.


        Dentro desse método científico insere-se, portanto, o modelo clássico de produção científica dividido em três fazes:

OBSERVAÇÃO: observa-se o fenômeno a ser estudado, após se ter certeza de este realmente ocorra. Para isso, a hipótese da existência do fenômeno será submetida ao método acima demonstrado.

RACIONALIZAÇÃO: o fenômeno será traduzido num discurso racional, submetido a cálculos matemáticos e teorizado. Assim, ter-se-á certeza de que não se trata de um fenômeno metafísico. 
        Um exemplo disso é o caso do "fogo fátuo", que diante do pensamento comum e corrente o fenômeno da "língua" de fogo que subitamente perseguia transeuntes em meio a floresta, ou dentro de cemitérios, era chamado de "Mula sem cabeça", ou no Brasil de "Mboitata", a serpente de fogo. Fato, o fenômeno incandescente existia, mas seria ele uma criatura racional a perseguir transeuntes? O método científico descobriu que se tratava de um rastro de chama produzida por metano de corpos em decomposição, atraído pelo vácuo deixado por quem passava pelo local do vazamento.

EXPERIMENTAÇÃO: o fenômeno deve ser passível de ser reproduzido, do contrário algo estaria errado, ou os cálculos, ou a teoria em si, ou o que se observara era mera ilusão dos sentidos.
        Um exemplo disso foi o lento processo que levou cientistas na primeira metade do século XX a perceberem que a melhora milagrosa causado pela ministração de penicilina pura em animais era na realidade um veneno que gerava superbactérias indestrutíveis. Ou seja, o que se observou ao longo de anos de experimentação do uso indiscriminado de penicilina foi o erro na teoria que ela eliminava absolutamente todos os parasitas do organismo humano dando-lhe saúde absoluta.


        O racionalismo é contraposto por outros pensadores que defendem o empirismo como a fonte segura de se conhecer a verdade, como David Rume.

GILBERTO FREYRE

GILBERTO FREYRE 

Principal trabalho: Casa-Grande & Senzala – 1933.

Visão romântica da escravidão.


 Três pilares fundamentais da gênese da sociedade brasileira:

                Monocultura/latifúndio, trabalho escravo e família patriarcal.

Negação da eugenia - branqueamento do Brasil.
                Oliveira Vianna via na mestiçagem um fator de degradação da raça brasileira.

Miscigenação – fator de fortalecimento biológico, social, econômico e cultural.

Demonstrou que o determinismo racial ou climático não influencia no desenvolvimento de um país.

DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL:


Harmônia interétnica: mitigação da escravidão brasileira (menos ruim que a norte-americana).
Harmonia feita através da mistura sexual, culinária

“Confraternização” entre as três raças formadoras da sociedade brasileira:
      
            O português – dominador; - se misciegnou sexualmente com as índias.
O índio - natural da terra; - “intoxicação sexual” – miscigenação imediata com o  
              português, que dominou a mulher nativa – ausência de preconceito.
O negro - vindo da África em posição subalterna.
Mistura de cultura e sangue – fortalecimento da raça físicamente e de sua cultura, enrriquecida.

A FETICHIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES: 
Monocultura, latifúndio e trabalho escravo.

Latifúndio/ Monocultura: propiciou a conquista do extenso território.
     fome - inferioridade física do brasileiro.
Escravatura: trabalhadores saudáveis e fortes – esforço útil – tratados com docilidade -

Família patriarcal:  mulher vítima do domínio e abuso do homem, reprimida sexual e
     socialmente  - submatida ao marido e ao pai.
                      Sádica com relação às mulatas, por inveja sexual.
                      Externando o sadismo e a frieza da vida sexual.

SADO-MASOQUISMO PROJETO NA SOCIEDADE:

                Originado na relação opressiva homem/mulher, e que se refletia na relação mulher branca/mulata, extrapola a vida doméstica e atinge a esfera social e política, expressando-se no mandonismo político, no governo autocrático, no “princípio de autoridade” e na defesa da Ordem.
                Dualidade social: senhores/escravos, doutores/analfabetos, cultura europeia/cultura africana e ameríndia.

RELIGIÃO:

                Influência nociva:
- jejuns nocivos a saúde do povo.
- tabús sexuais – repressão emocional.
- silenciocidade diante do problema da sífilis e adultérios inter-raciais.

Crítica à noção de democracia racial de Gilberto Freyre:




quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Surgimento da Sociologia no Brasil

         O surgimento da Sociologia formal no Brasil teve início a partir das décadas de 1920 e 1930, quando os estudiosos dessa área passaram a se dedicar a pesquisas que visavam construir um entendimento acerca da formação da sociedade brasileira analisando temáticas cruciais para essa compreensão. Assim, eles voltaram-se para estudos referentes a escravatura e a abolição, estudos sobre índios e negros e o êxodo rural, e mesmo analises sobre o processo de colonização.

          O período foi crucial para discussões sobre os desequilíbrios na sociedade brasileira, ainda mais devido à presença intensa dos ex-escravos nos grandes centros, sobretudo no Rio de Janeiro, devido a abolição da escravatura.


A ABOLIÇÃO E A QUESTÃO DA TERRA

            A abolição da escravatura trouxe o problema dos desprovidos. Os escravos libertos eram agora cidadãos brasileiros sem terra, sem profissão, sem lar sem nada, apenas com a liberdade, o direito e vagar pelo país. O resultado foi de um lado o inchaço dos bairros pobres das grandes cidades, que culminou em crises sociais e sanitárias, como se observou em casos como a Revolta da Vacina (1904).

            No campo a calamidade dos negros livres se uniu a penúria dos pequenos proprietários de terras. Com a República novos impostos foram criados, cobrança que se somou à seca exaurindo os parcos recursos dos camponeses. O resultado foi aquele é entendido como um dos primeiros movimentos campesinos sem-terra do Brasil liderado pelo beato Antônio Conselheiro.

        
EUCLIDES DA CUNHA

    É na cobertura desse evento que surge uma das primeiras obras formais sobre os problemas sociais brasileiros, Os Sertões de Euclides da Cunha.

            Esta obra evidencia o caráter cientificista do período. Divida em três parte, A Terra, O Homem, A Luta, demonstra uma visão racional da sociedade, matematicamente dividida e seguindo uma visão determinista, no caso o meio ambiente, quando trata do tema a Terra.

            Pode-se considerar que, apesar das influências republicanas, Euclides da Cunha procura fazer um relato realista do homem do sertão. Na sua procura por indivíduos vítimas da seca e da alienação do fanatismo religioso, o que o autor acaba relatando é que encontrou um povo forte, lúcido e bem organizado.

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.  É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeiramente conversa com um amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.

É o homem permanentemente fatigado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que vê-lo desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.”(CUNHA, Euclides. Os Sertões.S. Paulo, 2. ed., Ática, 2000. p.48.)
 


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

EPISTEMOLOGIA: Aristóteles.



A filosofia de Aristóteles dominou verdadeiramente o pensamente europeu a partir do século XII21 e a revolução cientifica iniciou-se no século XVI, somente onde a filosofia aristotélica foi dominante sobreveio uma revolução científica.
As afirmações científicas de Aristóteles são totalmente desmentidas nos dias de hoje e a principal razão disso é que nos séculos XVI e XVII os cientistas aplicaram métodos quantitativos ao estudo da natureza inanimada, assim a Física e a Química de Aristóteles são irremediavelmente inadequadas em comparação com o trabalhos dos novos cientistas.
Apesar do alcance abrangente que as obras de Aristóteles gozaram tradicionalmente, os acadêmicos modernos questionam a autenticidade de uma parte considerável do Corpus aristotelicum.

O MUNDO DA EXPERIÊNCIA 

Para Aristóteles, existe um único mundo: este em que vivemos. Só nele encontramos bases sólidas para empreender investigações filosóficas. Aliás, é o nosso deslumbramento com este mundo que nos leva a filosofar, para conhecê-lo e entendê-lo.
Aristóteles sustenta que o que está além de nossa experiência não pode ser nada para nós. Nesse sentido, ele não acreditava e não via razões para acreditar no mundo das ideias ou das formas ideais platônicas.
Porém, conhecer o mundo da experiência, "concreto", foi um desejo ao qual Aristóteles se entregou apaixonadamente. Assim, ele descreveu os campos básicos da investigação da realidade e deu-lhes os nomes com que são conhecidos até os nossos dias: lógica, física, política, economia, psicologia, metafísica, meteorologia, retórica e ética.
Aliás, ele inventou também os termos técnicos dessas disciplinas e eles também se mantêm em uso desde então. Exemplos? Energia, dinâmica, indução, demonstração, substância, essência, propriedade, categoria, proposição, tópico, etc.
 

POTÊNCIA, ATO E MOVIMENTO 

        Todas as coisas são em potência e ato. Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato). É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente em ato - também é uma folha de papel ou uma mesa em potência). A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "ato puro".
         Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência.



AS QUATRO CAUSAS
Para Aristóteles uma coisa é o que é devido a sua forma. Como, porém, o filósofo entende essa expressão? Ele compreende a forma como a explicação da coisa, a causa de algo ser aquilo que é. Na verdade, Aristóteles distingue a existência de quatro causas diferentes e complementares:
Causa material: de que a coisa é feita? No exemplo da casa, de tijolos.

Causa eficiente: o que fez a coisa? A construção.
Causa formal: o que lhe dá a forma? A própria casa.
Causa final: o que lhe deu a forma? A intenção do construtor.

Embora Aristóteles não seja materialista (vimos que a forma não é a matéria), sua explicação do mundo é mundana, está no próprio mundo. Finalmente, para o filósofo, a essência de qualquer objeto é a sua função. Diz ele que, se o olho tivesse uma alma, esta seria o olhar; se um machado tivesse uma alma, esta seria o cortar. Entendendo isso, entendemos as coisas.


 FÍSICA


Aristóteles não reconhecia a ideia de inércia, ele imaginou que as leis que regiam os movimentos celestes eram muito diferentes daquelas que regiam os movimentos na superfície da Terra, além de ver o movimento vertical como natural, enquanto o movimento horizontal requeriria uma força de sustentação. Ainda sobre movimento e inércia, Aristóteles afirmou que o movimento é uma mudança de lugar e exige sempre uma causa, o repouso e o movimentos são dois fenômenos físicos totalmente distintos, o primeiro sendo irredutível a um caso particular do segundo. No livro II, Do Céu, ele afirma explicitamente que quando um objeto se desloca para seu estado natural o movimento não é causado por uma força, assim ele afirma que o movimento daquilo que está no processo de locomoção é circular, retilíneo ou uma combinação dos dois tipos.

ÓTICA

Na época de Aristóteles, a ótica matemática era ainda uma disciplina nova, contrariamente às outras matemáticas e especialmente à geometria, ele faz recorrentes referências à cor, à sua "unidade" e à sua constituição, nos mesmos contextos em que se fala de outros setores do real que pertencem a outras ciências matemáticas, e do que neles é unidade.
Aristóteles fez objeções à teoria de Empédocles e ao modelo de Platão que considerava que a visão era produzida por raios que se originavam no olho e que colidiam com os objetos então sendo visualizados. Ao refutar as teorias então conhecidas, ele formulou e fundamentou uma nova teoria, a teoria da transparência: a luz era essencialmente a qualidade acidental dos corpos transparentes, revelada pelo fogo.
Aristóteles sugeria que a ótica contempla uma teoria matemático-quantitativa da cor, que corresponde a uma teoria da medição da luz, assim ele afirma que a luz não era uma coisa material mas a qualidade que caracterizava a condição ou o estado de transparência: "Uma coisa se diz invisível porque não tem cor alguma, ou a tem somente em grau fraco"

QUÍMICA


Enquanto Platão, seu mestre, acreditava na existência de átomos dotados de formas geométricas diversas, Aristóteles negava a existência das partículas e considerava que o espaço estava cheio de continuum, um material divisível ao infinito.
Sua obra Meteorologia, sintetiza suas ideias sobre matéria e química, usando as quatro qualidades da matéria e os quatro elementos, ele desenvolveu explicações lógicas para explicar várias de suas observações da natureza. Para Aristóteles a matéria seria formada, não a partir de um único, mas por quatro elementos: terra, água, ar e fogo, mas existiria sim um substrato único para toda a matéria, mas que seria impossível de isolar - serviria apenas como um suporte que transmite quatro qualidades primárias: quente, frio, seco e úmido. A fundação da Alquimia se baseou nos ensinamentos de Aristóteles, curiosamente ele afirmou que as rochas e minerais cresciam no interior da Terra, assim com oos humanos, os mineirais tentavam alcançar um estado de perfeição através do processo de crescimento, a perfeição do mineral seria quando ele se torna-se ouro.


ASTRONOMIA
Aristóteles concorda com seu mestre (Platão) em considerar a astronomia uma ciência matemática em sentido pleno, não menos do que a geometria, ele também concordava que os movimentos estudados pela astronomia, como diz a A República, não se percebem "com a vista".
O cosmos aristotélico é apresentado como uma esfera gigantesca, porém finita, à qual se prendiam as estrelas, e dentro da qual se verificava uma rigorosa subordinação de outras esferas, que pertenciam aos planetas então conhecidos e que giravam em torno da Terra, que se manteria imóvel no centro do sistema (sistema geocêntrico).

 
BIOLOGIA
Considerado o fundador das ciências como uma disciplina, Aristóteles deixou obras naturalistas como História dos Animais, As partes dos animais, A geração dos animais e opúsculos como Marcha dos animais, Movimentos dos animais e Pequeno tratado de história natural e muitas outras obras sobre anatomia e botânica que se perderam e tratavam sobre o estudo de cerca de 400 animais que buscou classificar, tendo dissecado e cerca de 50 deles. Também realizou observações anatômicas, embriológicas e etológicas detalhadas de animais terrestres e aquáticos (moluscos e peixes), fez observações sobre cetáceos e morcegos. Embora suas conclusões sejam muitas vezes equivocadas atualmente, sua obra não deixa de ser notável.33 Seus escritos de biologia e zoologia correspondem a mais de uma quinta parte de sua obra, nelas trabalha sobre a noção de animal, a reprodução, a fisiologia e a classificação.
Segundo alguns cientistas da atualidade, Aristóteles teria "descoberto" o DNA, por ele identificar a forma, isto é, o eidos preexistente no pai que é reproduzido na prole.
Aristóteles foi quem iniciou os estudos científicos documentados sobre peixes sendo o precursor da ictiologia (a ciência que estuda os peixes), catalogou mais de cem espécies de peixes marinhos e descreveu seu comportamento. É considerado como elemento histórico da evolução da piscicultura e da aquariofilia, separou mamíferos aquáticos de peixes e sabia que tubarões e raias faziam parte de grupo que chamou de Selachē (Chondrichthyes).


EXERCÍCIOS






01 – (UENP – 2011) As discussões iniciais sobre Lógica foram organizadas por Aristóteles no texto conhecido como “Organon”, onde o filósofo sistematiza e problematiza algumas das afirmações que tinham sido feitas pelos pré-socráticos (Parmênides, Heráclito) e por Platão. Sobre a lógica aristotélica é incorreto afirmar:
a) A lógica aristotélica é um instrumento para trabalhar os contrários, e as contradições para superá-los e chegar ao conhecimento da essência das coisas e da realidade.
b) Aristóteles considera que a dialética não é um procedimento seguro para o pensamento, tendo em vista posições contrárias de debatedores, e a escolha de uma opinião contra a outra não garante chegar à essência da coisa investigada, por isso sugere a substituição da dialética pela lógica.
c) Entre as principais diferenças que existem entre a lógica aristotélica e a dialética platônica estão: a primeira é um instrumento para o conhecer que antecede o exercício do pensamento e da linguagem; a segunda é um modo de conhecer e pressupõe a aplicação imediata do pensamento e da linguagem.
d) A lógica aristotélica sistematiza alguns princípios e procedimentos que devem ser empregados nos raciocínios para a produção de conhecimentos universais e necessários.





2) - Quatro tipos de causas podem ser objeto da ciência para Aristóteles: causa eficiente, final, formal e material.
Assinale a alternativa correta em que as perguntas correspondem, respectivamente, às causas citadas.
a)       Por que foi gerado? Do que é feito? O que é? Quem gerou?
b)      O que é? Do que é feito? Por que foi gerado? Quem gerou?
c)      Do que é feito? O que é? Quem gerou? Por que foi gerado?
d)      Quem gerou? Por que foi gerado? O que é? Do que é feito?











3) -  Leia o texto a seguir:
Dado que dos hábitos racionais com os quais captamos a verdade, alguns são sempre verdadeiros, enquanto outros admitem o falso, como a opinião e o cálculo, enquanto o conhecimento científico e a intuição são sempre verdadeiros, e dado que nenhum outro gênero de conhecimento é mais exato que o conhecimento científico, exceto a intuição, e, por outro lado, os princípios são mais conhecidos que as demonstrações, e dado que todo conhecimento científico constitui-se de maneira argumentativa, não pode haver conhecimento científico dos princípios, e dado que não pode haver nada mais verdadeiro que o conhecimento científico, exceto a intuição, a intuição deve ter por objeto os princípios.
(ARISTÓTELES. Segundos Analíticos, B 19, 100 b 5-17. In: REALE, G. História da Filosofia Antiga. São Paulo: Loyola, 1994.)
Considere as afirmativas a seguir a partir do conteúdo do texto acima.
I. Todo conhecimento discursivo depende de um conhecimento imediato.
II. A intuição é um hábito racional que é sempre verdadeiro.
III. Os princípios da ciência devem ser demonstrados cientificamente.
IV. O conhecimento científico e a opinião não admitem o falso.
Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas corretas, mencionadas anteriormente.
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.